O avesso da pele
O narrador conversa com seu pai, que supostamente faleceu ou foi embora, enquanto o narrador vasculha seu apartamento a procura de objetos que lhe ajudem a contar a história do seu pai. Ele conversa com o pai e conta a história dele para ele mesmo.
Começa descrevendo seu trabalho como professor de escola pública de proto alegre, e retoma a infância, com passagens por momentos marcantes como quando foi jurar a bandeira e foi dispensado do serviço militar por ser muito magrelo e fraco, quando foi para uma entrevista de emprego e viu pela primeira vez o racismo descarado, quando apanhou e vou algemado ao ser confundido por um ladrão, e quando conheceu seu amigo branco com mãe indígena que veio do interior tentar a sorte na cidade, mas acabou vivendo na miséria juntos com os irmãos, vendo no crime uma solução para a fome.
Depois descreve os primeiros amores, com meninas brancas, a primeira, Juliana, uma ruiva que veio do interior para porto alegre. Naquela época ele ainda não conhecia racismo, negritude nem tinha consciencia racial, ignorava as piadas, ria junto e só aguentava, não percebia ou não ligava para os olhares das pessoas, mas no cursinho teve aulas de literatura com um professor negro que ensinou sobre malcom x, mlk e tantos outros, e também sobre o inicio do racismo no seculo xviii e sua justificativa biológica fajuta para justificar a escravidão. Depois as piadas começaram a incomodar e por fim, seu pai, Henrique, brigou com Juliana e os dois terminaram. Assim acaba a primeira parte do livro, “A pele”, e começa a segunda, “O avesso”.
A segunda parte começa com a história da mãe do narrador, a Marthinha, descreve como ela ficara orfã ainda muito nova e foi adotada por uma amiga da sua tia, uma mãe solteira e professora de sociologia. Conta também sobre o relacionamento dela com seu pai, de como ela era ciumenta e controladora, de como os dois estavam separados quando a notícia da gravidez surgiu e como ficaram juntos pela criança depois disso. A mãe cresceu em uma casinha de campo em santa catarina e ouviu cedo o racismo, quando um homem velho e asqueroso a chamou de “mulatinha gostosa”. Ela aprendeu então que era negra, mas ainda não entendia o que isso queria dizer.
A história vai e vem sobre a infância do pai e da mãe do autor, mas ainda em segunda pessoa, como se o autor conversasse com seu pai, que descobrimos agora ter falecido.
Em um capítulo que se destaca, o autor descreve como num certo dia o pai o abordou perguntando se ele conhecia Deus, e que falou com ele por olhos marejados sobre sempre seguir fiel a quem ele era, sobre o "avesso", aquilo que está por dentro, a sua consciência e o seu ser, e que deve ser forte para resistir a o que as pessoas de fora tentarão impor, sobre quem você é.
A mãe cresce no "Ranchinho", um terreno no Morro das Pedras em Santa Catarina. Lá ela tem o primeiro contato com o amor, quando se casa com Vitinho, o Vitor, filho de donos de um armazém, onde vai morar com a Martha, numa casinha simples do lado da casa dos pais dele. Lá ela é feliz por algum tempo mas vai crescendo insatisfeita com os abusos da sogra, que diz que ela deve ajudar na casa e começa a trata-la como se fosse uma empregada.
Depois ele descreve como o pai viajou até o Rio para o enterro do pai, que o abandonou com um ano de idade e que não sentia nenhum pingo de afeto. Foi sempre ele e sua mãe, sozinhos no mundo tentando sobreviver a pobreza, a fome e o racismo.
Sobre a relação do pai e da mãe, ele descreve como estavam sempre brigando, se separando mas acabavam voltando porque ela dependia dele e ele não sabia dizer não. Tentaram terapia de casal mas pareceu ao seu pai ridículo, dois terapeutas psicanalistas brancos tentando resolver de forma metódica a relação de duas pessoas negras que estavam em um turbilhão emocional devido à vida e ao racismo sempre presente.
Sua mãe, Martha, já estava sugada pelo casamento e apenas aguentava os abusos da sogra, mas se viu assustada quando um dia Vitinho voltou para casa irritado e fungando, dizendo que ela não era virgem e que gemia que nem uma puta, que o pai tinha dito que pretinhas como ela não prestavam. Ela disse que ia embora e ele a segurou pelos cabelos e lhe deu um tapa. Ela foi chorando para a cozinha e ele quase foi atrás, com raiva querendo estuprá-la, mas a batida incessante na porta o fez mudar de ideia, e depois dizer para a mãe que estava tudo bem foi para a cama, onde desmoronou e dormiu. Martha ficou na sala chorando e pensando que iria embora, mas de manhã ele implorou por desculpas e prometeu que nunca mais ia acontecer, que não era sério seu problema com drogas e que fazia tempo que não via os amigos, que foi apenas um teco e uma cerveja.
Nos próximos dias as coisas foram voltando ao normal, mas ainda assim aquele receio dele voltar alterado para casa permaneceu.
O autor descreve todas as vezes em que seu pai sofreu racismo e abordagens da polícia, de como desde muito pequeno ele aprendeu a evitar e a sentir o perigo da aproximação de uma viatura, antes mesmo de entender o motivo e o que era o racismo que estava sofrendo.
Nos meses antes do fim, estava dando aulas para duas turmas do EJA, alunos difíceis e problemáticos que não estavam nem aí para as aulas, mas que depois de muita insistência e preferindo apenas sentar e ouvir a conversa dos alunos, ele conseguiu adentrar sua discussão sobre um cara que matou dois outros caras. Assim ele diz que conhece alguém que matou dois caras, e que ia trazer ele na semana que vem se ninguém faltasse a aula. Ele então consegue a atenção pelo resto da aula, e na seguinte apresenta o livro crime e castigo, como o cara que matou outros dois caras.
Ele estava indo para casa depois de uma dessas aulas incríveis, em que ele conseguia encenar o seu livro preferido e os alunos estavam todos ligados nele, e com isso reacendeu seu desejo de dar aulas, sentia que estava mudando alguma coisa na vida daqueles garotos, mas daí indo para casa de noite depois de uma boa aula dessas ele estava radiante, sem se importar com nada, quando derepente uma blitz manda ele parar e largar sua pasta no chão, os policiais já com armas em punho, e ele nem liga, e vai pegar algo na pasta, e leva mais de três tiros e assim cai morto, assassinado por uma polícia racista que tem pesadelo com homens negros vindo pegar suas filhas e suas mulheres, homens que querem vingança de um sistema penal e criminal que faz guerra contra os pretos e os pobres, mas só conseguem sua vingança alimentando mais ainda o monstro que os atormenta.