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Discurso sobre Colonialismo

Aimé Césaire, 1950.

Disponível online em inglês aqui.

Intro

Antes de entrar no livro em si mas lendo a introdução, minha concepção inicial de colonialismo é o seguinte: invasão europeia à outros povos com a desculpa de "civilizar" aqueles que vivem lá, a partir de justificativas racistas com teor inicialmente teocrático e depois científico, como se eles fossem menos humanos que os europeus, abrindo margem assim pra todo tipo de exploração e barbárie. É basicamente o movimento de submissão de um povo inteiro aos padrões europeus racistas, destruindo completamente sua história e cultura e os moldando aos conformes dos seus mestres opressores. Exemplo mais claro pra mim é os espanhóis dominando a américa latina e dizimando todo o povo originário, junto com sua cultura.

Já na introdução o mano já cita o Aimé sobre a crítica dele à hipocrisia europeia perante o nazismo e o fascismo. Que o nazismo alemão basicamente foi o processo de colonialismo contra os próprios europeus, na figura do povo judeu, e que os mesmos que ficaram chocados com o nazismo eram cúmplices de práticas iguais e até piores contra os povos negros, indígenas e asiáticos colonizados pelo homem branco europeu.

Acabei esbarrando nesse tema em um vídeo do Jones sobre colonialismo, e devo deixar registrado que o maior influenciador para Hitler foi a lei Jim Crow dos EUA, a segregação americana contra o povo negro. E que depois da segunda guerra foi feito um revisionismo histórico pra disvencilhar a ideologia nazista da ideologia colonialista europeia e do preconceito antissemita americano.

Então o verdadeiro crime do fascismo foi a aplicação em pessoas brancas de procedimentos coloniais "que até então tinham sido reservados exclusivamente para os Árabes da Algeria, os 'coolies' da Índia, e os 'negros' da África". (p. 36)

Césaire diz também que a visão racista dos europeus perante os negros, como seres sub-humanos sem cultura foi feito por anos via intelectuais brancos, que tentavam apagar a história milenar dos povos africanos e sobre como eles funcionavam fora de um estilo de vida capitalista. O povo que era escravizado sabia como plantar, caçar, construir, forjar metais e muito mais, uma característica pré-capitalista que foi perdida com os "tempos modernos".

O Discurso

Césaire já começa lançando as pedradas levantadas acima, sobre como o nazismo basicamente é o colonialismo contra o homem branco. Depois fala que o capitalismo é incapaz de estabelecer um conceito sobre o direito de todos os homens. O primeiro ponto que ele levanta é sobre como o colonizador é desumanizado por suas práticas, que a prática colonizadora tende a transformar aquele que a pratica, pois é só assim que o colonizador consegue seguir sem culpa, primeiro transformando em animal o colonizado, e depois gradativamente o próprio colonizador. A barbárie que o colonizador diz querer terminar a partir da civilização forçada, acaba legitimando seus atos bárbaros contra os povos sendo colonizados.

Depois ele vai além mostrando a hipocrisia da alta sociedade europeia. Como os burgueses e os cientistas argumentavam sobre como usar o povo colonizado nos seus surtos de violência, afim de mantê-la longe das suas cidades "civilizadas". De como eles tiveram que justificar usando argumentos racistas, que diziam o branco ser uma "raça superior", e por fim aplicando apagamento histórico pra corroborar suas falsas premissas de povo não civilizado, sumindo com toda a cultura, toda a tecnologia e toda a organização política e social que fosse diferente daquela europeia.

Além do lado racista, tem a justificativa teológica de que os povos colonizados não esperam qualidade de vida, apenas respeito pela sua tradição e religião local, e que esses povos vêem o homem branco como algo divino e abençoado, numa alta posição hierarquica.

Além disso, o lado científico vem também a partir da psicanálise, quando um tal M. Mannoni argumenta que os povos colonizados sofrem de um "complexo de dependência", e que é um povo que anseia por depender de outro. Todos esses argumentos ajudaram a justificar o racismo e a barbárie perpretada pelos colonizadores europeus.